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Artigo publicado originalmente no site Exame.com
Brasil, abril de 2025 - À medida que uma empresa cresce, aumentam a complexidade e os desafios para sustentar seu desenvolvimento. Muitos executivos acreditam que a solução para este impasse está no ambiente externo – encontrar um mercado atraente, formular a estratégia certa e conquistar novos clientes. No entanto, em 90% dos casos, as barreiras de crescimento estão dentro das próprias organizações, aponta uma pesquisa conduzida pelos sócios da Bain & Company Chris Zook e James Allen, apresentada no livro A mentalidade do fundador.
Esses obstáculos são naturais no contexto de expansão das companhias, que acabam passando por crises previsíveis em momentos esperados. No entanto, se essas questões não forem endereçadas corretamente, podem limitar o avanço e até levar ao declínio do negócio.
Com base em estudos realizados ao longo de uma década em mais de quarenta países, Zook e Allen destacam três traços fundamentais que caracterizam empresas de alta performance. Esses princípios – cabeça de dono, obsessão com a linha de frente e espírito insurgente – formam o que chamam de “mentalidade do fundador”, um modelo que resgata a velocidade, o foco e a conexão com os clientes.
Cabeça de dono
Empresas que cultivam a mentalidade de dono esperam que seus colaboradores atuem com autonomia, assumam responsabilidades e evitem burocracias que dificultem a inovação. Esse modelo de gestão incentiva um ambiente mais dinâmico, no qual a progressão de carreira e o reconhecimento são baseados no desempenho e impacto, e não apenas em redes de relacionamento ou dinâmicas internas.
Além disso, estruturas organizacionais com menos entraves administrativos favorecem a tomada de decisões ágil e o protagonismo dos funcionários, impulsionando uma cultura organizacional focada em resultados. Esse modelo estimula os times a se envolverem mais ativamente nos desafios do negócio, promovendo inovação e maior engajamento.
Os números também comprovam a importância de manter a “cabeça de dono”. Um estudo da Purdue’s Krannert School of Management revelou que empresas lideradas por seus fundadores geram 31% mais patentes, desenvolvem soluções de maior valor e têm maior propensão a investir na renovação e adaptação de seus modelos de negócio. Essa postura impulsiona a inovação, fortalece a competitividade e prepara as empresas para o futuro.
Obsessão com a linha de frente
Organizações que mantêm uma forte conexão com a linha de frente garantem que a experiência de clientes e colaboradores seja a base das tomadas de decisão. Esse princípio reforça a importância de ouvir diferentes perspectivas dentro da empresa e adaptar estratégias de acordo com as reais necessidades do mercado.
Empresas que priorizam esse contato direto com clientes e equipes operacionais conseguem, ao mesmo tempo, melhorar seu desempenho e aumentar a fidelização e a satisfação do consumidor. Comprovando esse conceito, pesquisas da Bain indicam que companhias com as mais altas pontuações no Net Promoter ScoreⓇ (NPS), métrica que avalia o nível de contentamento dos clientes, proporcionam a seus acionistas retornos totais de duas a três vezes o valor médio de mercado.
Espírito insurgente
O espírito insurgente representa a capacidade de desafiar o status quo e buscar constantemente novas oportunidades de crescimento. Organizações que cultivam esse traço mantêm uma cultura de experimentação contínua, na qual questionar normas tradicionais e propor soluções inovadoras são práticas incentivadas.
Esse ambiente favorece a transformação corporativa sustentável, permitindo que a empresa se mantenha competitiva. O espírito insurgente estimula a inovação cultural e impulsiona mudanças estruturais que ajudam a construir negócios mais resilientes e preparados para desafios futuros.
Em um cenário de constante transformação, empresas que incorporam os princípios da “mentalidade do fundador” têm maior potencial de expansão e inovação, garantindo sua relevância no longo prazo. Ao fortalecer a autonomia, a conexão com a linha de frente e a cultura de questionamento, as organizações evitam que a burocracia e a complexidade comprometam seu desempenho. Esse pode ser um diferencial decisivo para que as companhias alinhem seu propósito à estratégia e ao modelo de negócios, ganhando robustez para enfrentar desafios estratégicos em sua trajetória.
* Alfredo Pinto é Office Head da Bain & Company na América do Sul.